Ontem rolou a notícia de uma mulher morta durante uma lipoaspiração. Ela iria fazer a terceira operação em pouco mais de um mês. As operações foram realizadas numa clínica, localizada no terceiro andar de um prédio no Centro de um município próximo aqui Rio de Janeiro. A tragédia ganha toques surreeais qdo um dos familiares denunciam q um dos médicos sugeriu que as convulsões da paciente durante a anestesia poderia ser obra de espírito zombeteiro e q ela deveria ser assistida por algum exorcista ou algo assim. É o fim do mundo mediado por uma mistura de charlatanismo oficial e satisfação de uma vaidade desinformada e preguiçosa. No fim o prejuízo é familiar, uma mãe morta, filhos órfãos, família destruída.
O charlatanismo é oficial sim. Clínicas são registradas pelo governo e suas esferas de administração, são fiscalizadas pelos serviços q prestam e pelos impostos q pagam. Acho q diante de uma morte a paulada deveria descer na diagonal, tudo aí está errado. De fiscais q não fiscalizam a médicos q indicam mães de santo como solução a emergencia anestésica na mesa de operação. Uma clínica no terceiro andar de um prédio comercial no centro velho da cidade de Tenório Cavalcante não poderia estar apta a realizar atos cirúrgicos. Talvez no máximo tirar umas unhas encravadas e olhe lá. Mais uma vez, alguém teve de morrer pra isso vir a baila novamente. Daqui a pouco a poeira baixa e outra clínica será descoberta. Talvez neurológica, realizando lobotomias e transplantes de medula, num quiosque de shopping center.
A vaidade desinformada tbém é ingrediente básico deste angú de caroço. Nossa classe média quer ter vantagem em tudo, quer possuir, consumir e ter. Pra tudo isso tem Mastercard e Visa, planos de 24, 48, 128 prestações. Cirurgias, playstation 3, TV's de 50 polegadas é tudo a mesma coisa. Coma um hamburguer hj, lipoaspire ele amanhã. A merda toda é q uma cirurgia não é um retoque de photoshop. Em toda operação existe um transiente q pode ir de algumas horas a alguns meses. Ninguém gosta muito de falar sobre isso. Nunca se teve tanta informação disponível e ao mesmo tempo tão desperdiçada. Negligência do consumidor ajuda essa prática. Uma operação não é a compra de uma camisa ou perfume. O pessoal da livre iniciativa vendeu esse peixe e a gente engole ele sem reclamar. Aliás quem reclama acaba sendo desagradável mesmo.
Eu mesmo fico irritado qdo vou nas reuniões do grupo de obesos candidatos ou veteranos da operação de redução de estomago. Ja falei dela por aí, ocorre todo mes e funciona como uma gde consulta aberta para candidatos e de apoio de grupo para os q já a realizaram. A irritação vem de algumas perguntas q se repetem, da negação a algumas das consequencias da opção pela operação, da busca por panacéias q não estão ainda no mercado. Enche o saco, mas sinceramente antes isso q descobrir mais tarde q alguém ali morreu numa operação de fundo de quintal.
Eu já operei, confesso ter muito medo das plásticas reparadoras e penso q jamais faria uma lipoaspiração. Mas vivemos em tempos de hiperestímulos, onde comer e fazer plástica são signos de status e poder. Uma bosta eu sei, mas é isso mesmo. Qto maior o nosso horizonte mais rasa a nossa consciencia, o tempo cada vez mais curto não permite questionamentos maiores, contemplações, reflexões. Tudo parece ter de ser resolvido em cima da perna, com conselhos pregnados pelo departamento de mkt de uma gde corporação.
Pois bem, isso tudo implica em uma bifurcação de soluções oficiais e bem regulamentadas, mediadas por planos de saúde e fiscalização belga. Ou pro mundo subterraneo genérico com medicina mista com sincretismo religioso, celulares powerpack e dvd's genéricos. Algo regulamentado à moda bangladesh.
Lamentável ver gente morrendo por conta de uma indústria de emgrecimento por aí. Quem pode evitar esta merda e não faz nada é cumplice.
Nenhum comentário:
Postar um comentário