
Uma das coisas mais cruéis que o tempo faz com a gente é não retroceder. Ele segue no sentido da entropia, cada vez mais distante do fluxo ideal, apenas aumentando a esculhambação de nossas vidas. Portanto, por mais que se deseje, não se recupera o tempo perdido jamais.
Pensei muito nesta coisa de tempo quarta passada, 21/04/2010, qdo eu fiz parte de um grupo com o propósito de fazer um bate e volta na Pedra do Sino em Teresópolis.

Fazer trilhas tem sido fonte de motivação neste processo de fugir da gordolândia. Ajuda a organizar um ciclo virtuoso de atividades físicas e treinamentos intensos. Subir em Pedras é bom pq elas sempre estarão te esperando. Cada uma delas é um problema proposto, aberto e amplo. Cada vez que as atacamos, ela tem uma resposta diferente, pois os obstáculos ao longo do caminho são vivos, galhos, pedras, charcos e poças mudam de lugar constantemente.
A trilha da Pedra do Sino é a última perna da Travessia Petropólis/Teresópolis. Tempo estimado de 4 horas. Por informações de amigos da Trilhas do RJ, já sabia q ela era
uma pedra bonita de 4 horas. A trilha da Pedra Bonita é um treino regular q faço sempre. Minha ultima subida fiz em pouco mais de 27 minutos sem parar. Sim, eu penso nessas coisas e me sentia confiante em encarar estas 4 horas.
Com uma estimativa de tempo, vem outra parte que me interessa na estratégia de encarar trilhas q é a
logística. O que levar dentro da mochila para abrigo, alimentação e os acessórios essenciais. O abrigo é a boa e velha roupa de trilha, uso sempre uma dry fit de manga comprida e uma bermuda pra início de conversa. Independente de estar quente ou frio, até pq fazendo as coisas direitinho o calor sempre chega. Essa seria uma trilha fria e eu coloquei bone e camisa extra por cima. Na mochila um anorak, bermuda e camisa extras. Pouco mais de 4 litros de agua, distribuida em 5 cantis, barras de proteínas, pacote de biscoito e umas barrinhas de carboidratos na forma de goiabinha e exceed em gel. Sim, é complicado fazer trilha e dieta hipocalórica no mesmo dia. A condição de gastroplastizado implica apenas em nunca comer nada inédito na trilha. Ou seja só coma aquilo que já se comeu, de preferencia em outras trilhas também. Entre os acessórios essenciais repelente, sundown 30, lanternas, pilhas, máquina fotografica, tripézinho e canivete. O Essencial pesa e ele pode matar a gente nessa brincadeira muito séria de subir morro a pé.

Com o tempo e a logística estabelecidas, o jogo começa e agora é andar. A primeira hora foi num ritmo de grupo, depois eu concentrei no meu umbigo e botei na cabeça as 4 horas de trilha. Andar forte e só parar em ultimo caso, vendo se o papo de recuperação ativa da academia funciona na Floresta. Cheguei no alto do morro com pouco menos de 4 horas e meia. Estava morto. Descolei um canto pra dar uma descansada, a vista é espetacular vc tem o tres meia zero do Capitào Nascimento, com as cidades do Rio, Caxias, Petropolis e Teresopolis a seu dispor, a menos q as nuvens apareçam e ali é rota delas.
Comi e resolvi descer para o platô logo abaixo, pois novamente pensei nos meus companheiros de trilha. Arrumando a mochila na beira do abismo lembrei de dinâmica e vi meu anorak compactado em forma esférica, ganhar energia cinética de rotação morro abaixo, só deu mesmo pra sorrir aliviado e agradecer não ser minha maquina fotográfica.

Logo depois disso decidi começar minha decida. Dei mais um tempo e foi legal esta parada, pois pude ver a chegada de um casal Sul Africano, eles estavam no quinto dia de travessia, troquei com eles dois goiabinhas por um café quente preparado na hora. Sensacional!
Qdo comecei a descer vi o pessoal do grupo chegando, eram quase 15:00h. Sabia que parte da minha volta seria no escuro. Queria pegar luz natural ao menos até a cachoeira véu da noiva, q eu tinha certeza q a partir dali a trilha era mais comum, apesar de longa, lembra muito a trilha do estudante aqui da Floresta da Tijuca.
Com duas horas de morro abaixo, eu piei. Pra mim, descer é muito mais desgastante q a subida. A tração da subida gasta oxigenio, mas protege as articulações, morro abaixo, cansado, vc começa a reparar na bota, q machuca, q pesa e q pisa torto. Os galhos prendem vc, tirar a mochila ou andar de gatinho embaixo daquela árvore caída? Aos poucos a gente ingrena uma banguela perigosa. Cheguei no limite da luz na cachoeira, pouco antes das 18h. Dali começou a pior parte, pois eu estava acabado. E o q durou uma hora subindo, pareceu o triplo e levou quase 2h efetivas.
Cheguei no meu carro pouco além das 19h. Podre. Fui pra casa feliz pra caramba.
Mes que vem volto com pernoite e garantia de boas fotos.
Gde abraço!